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sábado, 7 de maio de 2016

MARIA NILCE MAGALHÃES POR MARCOS TAVARES

Para lembrar o Dia das Mães, com carinho e saudades.
Texto publicado em “capítulos” no Facebook no início de maio de 2016.

“A vida se perpetua
mesmo nos putrefatos restos
quando o ser se anula.
Entre odores e microorganismos,
noutra forma de existir,
a vida se reorganiza”.

(in Gemagem, pg.52. Datado de 17-01-1978)

Nona filha de Tertuliano Tauribio dos Santos e Ana Cleta dos Santos, nasce na fazenda Fundão dos Índios, no Distrito de Timbuí (Fundão, ES), em 23 de Julho de 1941.

Então moça simples, mas bela sempre, aí a conhece o já renomado jornalista [ Djalma Juarez Magalhães ], com quem casa em 1961, logo indo para Vitória(ES), berço dos filhos Fernanda, Milla, “Juca” e Paloma.

Nomeia-se apenas “Maria”. Em 1967, precursora, no jornal A Tribuna passa a redigir coluna social intitulada MSM.

Sua forte personalidade exerce magnetismo, fascínio, admiração, até em ícones da então vigente inteligentsia: Amylton de Almeida, Rogério Medeiros, Glecy Coutinho, Carmélia M. de Souza, Xerxes Gusmão, Mariângela Pellerano, Fernando Tatagiba, Marien Calixte, Marcos Alencar, Milson Henriques.

Muitos desses são revistos na peça teatral Inven7ário – o fim de uma época, que, realizada por alunos do Curso de Teatro (FAFI, 2014), traz à cena a efervescente década de 70. Maria Nilce é, assim, com justeza, encarnada pela atriz Lilian Casotti.

Mesmo avessa a churrasco e cerveja, é bem sucedida em filantropia: festas beneficentes quebram marasmo da então pacata Ilha, fosse almoço para guardas de trânsito, fosse para arrecadar fundos a asilo ou orfanato.

Também detestando futebol, vai a estádios, a ginásios esportivos, ocasiões de festival de música, plateia de pé a gritar o seu nome, empunhando faixas, a jogar confetes.

Promove desfile de modas e deles participa como jurada (até de concurso de Miss Espírito Santo). Em evento no Ginásio do SESC (Parque Moscoso), multidão entoou-lhe o clássico “Ave Maria”. Apoteose já em vida.

Versátil, na TV Vitória produz e apresenta o programa “Coisas e Gente Muito Importantes”. Primeira jornalista a surgir, em nível nacional, na “telinha”, integra júri do “Hora da Buzina” (TV Globo) apresentado por “Chacrinha”.

Feminista em boa dose, Dia Internacional da Mulher jamais lhe passa em branco: para mulheres pobres promove suculento almoço.

Rebelando-se contra um colunismo só bajulador das elites, em sua coluna inicia Maria Nilce uma espécie de vertente “informativa”, propositiva até, na qual a seguem outros notáveis quais Jorginho Santos, Nirlan Coelho, Tao Mendes, Carlos Vaccari, Geraldo Bulau, Cesar Viola.

Espírito irônico, irreverente, é endeusada e, também, satanizada. Atrai leitores ávidos em saber vícios, virtudes e vicissitudes das personalidades capixabas de maior relevância.

Em 1986, crianças de Dores do Rio Preto (ES) remetem-lhe um abaixo-assinado contra matança de cães e gatos, por misterioso envenenador, e sua coluna [ no Jornal da Cidade ], com nota solidária, brada indignação.

Com predicativos para ser mais uma “dondoca” colunável, renuncia às facilidades e futilidades cotidianas e, por crença quase cega, idealista, opta pelo mais difícil trajeto, em que tanto espinhos quanto rosas colhe.

Assim encerra sua vida terrena: tomba atingida por cinco projéteis plúmbeos. Pistoleiros cumprem empreitada de gente poderosa e influente, alvo de sérias denúncias: de escusos negócios, de contrabando até.

Fato deu-se na manhã de 5 de Julho de 1989. Reafirma relatório da Polícia Federal a CPI do Narcotráfico, que aponta autores e mandantes.

No Newseum, memorial nova-iorquino a jornalistas que, mortos por retaliação ao ofício de noticiar, acabaram por virar triste notícia, nome de Maria Nilce consta.

Marcos Tavares é um capixaba da gema do ovo. Teimoso como muitos destes ilhéus, insiste (felizmente) em escrever contos e poemas que vêm sendo publicados desde 1987. Segundo “justificativa” de seu livro Gemagem “a preocupação com a linguagem formal é uma de suas características, é considerado um dos mais representativos poetas capixabas a despontar nos anos 1980”.´

Marcos Tavares (na ponta esquerda) com Elpídio Sant'anna e Juca Magalhães

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela reprodução dessa linda homenagem a essa grande mulher! Apenas duas considerações: o trabalho cênico que contém personalidades importantes do ES da década de 70 é do grupo que formou na FAFI em 2014; e atualmente o Grupo Con-tato tem novo elenco, com outra atriz interpretando Maria Nilce, Camila dos Reis.

Anônimo disse...

Mui estimado JUCA MAGALHÃES, tua postagem é , também, uma homenagem a este modesto escriba. Só permita-me uma correção no poemeto : ONDE "(...) , quando o odor se anula ", LEIA-SE "(...), quando o ser se anula ". Será que na fonte , donde o extraístes, digitei ODOR em vez de SER ? Sou mesmo um distraído . ( Marcos Tavares )