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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

LIVRO DA CAPO É DESTAQUE NA MÍDIA NACIONAL

Quem diria que seria na música de concerto que o Espírito Santo iria ganhar a mídia nacional? A última edição da tradicional revista Concerto traz uma retrospectiva dos principais acontecimentos na música clássica no Brasil e também a opinião de várias personalidades do meio musical como o compositor Marlos Nobre, o hoje regente João Carlos Martins, o pianista Ricardo Castro e, entre estes e muitos outros, o maestro titular da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo, Helder Trefzger.

Helder destaca a garra e a dedicação com que foi encarado o projeto da Orquestra em 2011, uma temporada considerada surpreendente na mídia nacional. Fala também do Festival de Domingos Martins, da Camerata do Sesi que tem o maestro Leonardo Davi na competente realização de uma temporada de concertos e da Série de Concertos Internacionais capitaneada por Gracinha Neves, trazendo ao estado uma série de importantes grupos musicais da Europa.

2011 marcou também o ressurgimento do livro Da Capo de Juca Magalhães, originalmente publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, um breve apanhado sobre a criação da Orquestra dos capixabas que durante muito tempo foi a única fonte de pesquisa sobre a história do grupo. O novo livro surgiu com uma pesquisa bem mais abrangente, dando conta de detalhes não abordados na primeira versão e que vem sendo elogiada fora do Espírito Santo, vide reportagem abaixo. 

A edição da revista Concerto de janeiro/fevereiro de 2012 traz em sua seção de livros três resenhas sobre os lançamentos mais relevantes do período, dentre estes está o Da Capo - de volta às origens da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo. Destaca a pesquisa bem elaborada e a importância da batalha no país pela criação e manutenção das orquestras sinfônicas. É uma luta comum a várias regiões do Brasil, terra de samba e futebol, portanto a nossa história acaba ganhando uma dimensão de universalidade que o próprio capixaba ainda não foi capaz de reconhecer.



O livro Da Capo tem sido vendido no hall de entrada do Theatro Carlos Gomes durante as apresentações da Filarmônica ou no Teatro do Sesi nas apresentações de sua camerata, mas pode ser adquirido junto ao autor ao preço de R$35,00 através do email djmagalhaes@hotmail.com. Está a venda também no site da revista Concerto (o link está na barra ao lado) e em sua loja "Clássicos" que fica no anexo da Sala São Paulo.

domingo, 29 de janeiro de 2012

O CORAÇÃO NÃO SENTE

Depois de abrir caminho através da noite perdido em uma floresta negra cheia de tarântulas e arbustos com espinhos venenosos, o príncipe finalmente pode divisar o castelo onde a malvada bruxa mantinha cativa sua amada. O pau quebrou para dar conta de conseguir invadir o castelo, teve que matar um dragão que não era a sua futura sogra, atravessar um poço cheio de crocodilos e serpentes e ainda combater o bom combate contra um exército de zumbis controlados por meninas tailandesas ou neozelandesas viciadas em jogos de computador.

- Pelo menos não está rolando aquela música do Michel Teló... – Com um cuspe o príncipe derrubou os enormes portões de ferro que davam acesso ao interior do castelo, foi quando bradou emocionado. – Meu amor! Eu estou chegando!

Subiu as escadas correndo e cortando cabeças pelo caminho, se perguntava curioso por que será que a bruxa mesma ainda não tinha se dignado a dar as caras. No alto da torre encontrou sua amada, linda e adormecida. Jogou-se de joelhos aos pés da cama, as lágrimas jorravam de seus olhos, levantou um leve cortinado e preparou-se para tascar um beijo naquela que bem poderia ser a sua futura princesa. Antes que consumasse o ato, num passe de mágica, a bruxa malvada apareceu.

- Para tudo aí rapazinho! Para tudo!! – Junto com ela vinha alguns caras de terno que logo se descobriu ser do Ministério Público e da polícia civil. – Quem você pensa que é pra entrar aqui na minha casa, fazer essa fuzarca toda e ainda tentar se aproveitar da Bela Adormecida?

- Eu? Mas ela estava presa aqui... Eu ia só dar-lhe-lho-lha um beijo.

- Ah é? E você pensa que é o quê, uma reencarnação do beijoqueiro é? A moça, por acaso, tinha autorizado você a tomar essas liberdades com ela?

- Não ué, ela está dormindo...

- Pois é... Dormindo! – um dos policiais já o agarrava pela gola da armadura - E quer dizer que você não sabe que se aproveitar de pessoas inconscientes é crime não seu celerado?! Você não assiste ao programa da Sonia Abrão não seu infeliz?!! – Claro que o pobre príncipe não assistia e dali foi direto pro xilindró.

Com uma gargalhada a bruxa malvada mudou de canal e voltou a assistir ao programa da bruaca sua comadre que lia reportagens de jornal e comentava como se estivesse falando para uma legião urbana de analfabetos. Comentava animada que na Europa as Leis são tão rígidas que se um homem sequer olhar para uma mulher certamente terá sérios problemas com a polícia.

Enquanto isso a pobre Bela nunca despertou.

Partindo para missões mais importantes um dos policiais ainda comentou: vai ver que é por isso que na Europa as taxas de natalidade são tão baixas, né? O que os olhos não vê (sic) o coração não sente...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

SAIU A LISTA COM OS INDICADOS AO OSCAR 2012!

Hoje Hollywoodland liberou a lista dos indicados ao Oscar 2012, a badalada cerimônia vai acontecer no final de fevereiro em Los “Pó de“ Angeles. Segue abaixo os concorrentes das cinco principais categorias, o famoso “Big Five”, vencido somente por três filmes na história da premiação: “Um Estranho no Ninho”, “O Silêncio dos Inocentes” e o longínquo “Aconteceu Naquela Noite” de 1935. A Invenção de Hugo Cabret de Martin Scorcese recebeu alucinantes onze indicações, seguido pelo belíssimo O Artista que concorre a dez, porém ficou de fora da disputa pela melhor atriz.

Minha torcida até agora, porque não vi nem vou ver todos esses filmes, vai para O Artista como melhor filme: simplesmente encantador! O melhor roteiro original deve ir para Meia noite em Paris e se não for é muita sacanagem. Falando nisso, como é que pode um filmezinho chinfrim como Missão Madrinha de Casamento concorrer também nessa categoria? É muito difícil de entender. Não vi a interpretação do Gary Oldman ainda, mas acho difícil alguém roubar a estatueta do George Clooney dessa vez. Sua interpretação em Os Descendentes é, finalmente, emotiva e delicada na medida certa.  

Senti falta de Drive, Planeta dos Macacos “A Origem” e Guerreiro (Warriors) na lista de melhor filme, cinema muito mais impactante do que O Homem que Mudou o Jogo, por exemplo. Falando nisso ainda bem que deixaram de fora o marcha lenta Tudo Pelo Poder, é aquele tipo de história que coisa, coisa e acaba que não coisa. Outro solenemente ignorado em quase todas as categorias é o TinTin, tomou foi uma lavada do Hugo Cabret, visto como seu concorrente direto. Parece que o Spielberg guardou todo o cinemão que sabe fazer para usar em Cavalo de Guerra.

Dentro da principal categoria feminina, só o ótimo “Vidas Cruzadas” chegou até agora ao meu conhecimento, não posso comentar a interpretação das demais concorrentes ao Oscar de melhor atriz, só que Meryl Streep vem badaladona por sua caracterização de Margaret Tatcher. Filme que, por sinal, não tenho nem vontade de ver. A lembrança da carrancuda Dama de Ferro dos ingleses é a mesma que teremos da Dilma daqui a trinta anos, o futuro vinga, mas com La Streep no papel principal é covardia.

Nos documentários torço pelo Pina de Win Wendes e o recomendo para as mentes mais ventiladas. É aquele tipo de filme que me faz pensar que até eu – se um dia me batesse a onda - poderia aprender a dançar. Tem uma sequência de um cara dançando na calçada e um cachorro latindo e pulando atrás dele que dá vontade de levantar e começar a saracotear também, é pura alegria. E por último, mas não menos importante, vale a torcida pelos brasileiros Carlinhos Brown e Sergio Mendes, concorrendo a melhor canção original “Real in Rio” do belo desenho animado Rio.

Segue então a lista com os principais concorrentes à estatueta do Oscar

Diretor
Michel Hazanavicius - "O artista"
Alexander Payne - "Os descendentes"
Martin Scorsese - "A invenção de Hugo Cabret"
Woody Allen - "Meia-noite em Paris"
Terrence Malick - "A árvore da vida"

Melhor filme
"Cavalo de guerra"
"O artista"
"O homem que mudou o jogo"
"Os descendentes"
"A árvore da vida"
"Meia-noite em Paris"
"História cruzadas"
"A invenção de Hugo Cabret"
"Tão forte e tão perto" 

Melhor ator
Demián Bichir - "A better life"
George Clooney - "Os descendentes"
Jean Dujardin - "O artista"
Gary Oldman - "O espião que sabia demais"
Brad Pitt - "O homem que mudou o jogo"

Melhor atriz
Glenn Close - "Albert Nobbs"
Viola Davis - "Histórias cruzadas"
Rooney Mara - "Os homens que não amavam as mulheres"
Meryl Streep - "A dama de ferro"
Michelle Williams -"Sete dias com Marilyn

Melhor roteiro original
"O artista"
"Missão madrinha de casamento"
"Margin Call"
"Meia-noite em Paris"
"A separação"

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

RAPIDINHA CULTURAL - DO VIOLÃO

Acabei de ler no site da Revista Concerto que faleceu no último dia 17 de janeiro o cravista Gustav Leonhardt. Fui apresentado a algumas peças de Bach através de suas gravações, referência de orelha para os aspirantes a batucadores de instrumentos de teclas. Entre estes estava uma menina chamada Ana Claudia, minha professora, tão paciente; até hoje me pergunto como foi que ela deu conta de me musicalizar, eu já com mais de vinte anos. Era motivo de orgulho pra Ana dizer que eu era o único adulto que ela conhecia que tinha aprendido a tocar piano “depois de grande”.

Olha que o tempo passou, mas não me sinto “grande” até hoje, nem aprendi o tanto do piano o quanto gostaria. Às vezes parece que a gente se sabota, arruma coisas, outros tantos trabalhos e tarefas só para não fazer o que realmente queremos ou mesmo gostaríamos de ter feito. Muitos então nos tornamos reclamões e críticos, tacamos logo pedra em qualquer um que se atreva a tentar fazer aquilo mesmo que nunca conseguimos, chutamos crianças quando estão aprendendo a andar. Porque não existe ninguém bom, lição amarga, aprendida na linha do tempo.

Tenho uma gravação do Cravo Bem Temperado com o Leonhardt, porque estava em um sebo de São Paulo e o dono da loja disse que eu não podia sair de lá sem aquele disco. Disse que tinha assistido um recital do cravista lá em Sampa e que depois da apresentação foi lá cumprimentá-lo, era fã de carteirinha que nem a Bolinhas com a tia Rita Lee. A gravação dessa obra de Bach é referência total, superlativa, elogiar seria até bobagem. Mas não pude agradecer a indicação, tempos depois quando voltei no sebo o dono tinha falecido, vítima do Mal de Chagas... Coisas da vida.



Como essa é uma rapidinha cultural, não posso deixar de convidar a galera para um recital internacional de violão clássico que vai rolar de graça hoje no Carlos Gomes, catei algumas infos sobre o artista que vai se apresentar no coparampa.com.br:

Vem aí o húngaro Sándor Mester, ou MS3, em única apresentação. Com apenas 16 anos de idade, Sandor venceu o prêmio Nacional da Hungria de Guitarristas, concorrendo na cidade de Torino. Hoje é o violonista clássico com maior número de concertos na Europa Central e Oriente, seu repertório abrange 600 anos de música clássica desde o Renascimento até os dias de hoje. 

Em 1998, teve sua carreira ameaçada devido a uma doença chamada "distonia focal" que paralisou sua mão direita. Enquanto lutava por sua recuperação, inventou uma nova maneira de fazer música digital concorrendo a patente com a "Digital Improvisation" (DI), fundando a Digimpro KFT em Budapeste (2000) e Digimpro Ltda em Londres (2003). A tecnologia DI já foi usada por grandes estrelas como: Robbie Williams, Roots, Manuva, Erasure e Moby. Retomou sua carreira em 2003, realizando mais de 500 concertos até 2005, em diversos países. Segue o flyier (voador em inglês):


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

HOJE TEM TROPICÁLIA NO THEATRO CHARLES GHOMES!

Ó queridos companheiros como pulas tão ligeiro.
Se és covarde saia do palco que essa galera é de valor!
Segunda bateria: pula, pula, pula. Pulou!!!

Como diria Juca Chaves, vocês sabem como é difícil para um homem na minha idade bisar, mas vou bisar: hoje a noite (19 de JANEIRO de 2012 - 20 horas) tem repeteco do espetáculo Um Canto Solidário em homenagem à Tropicália e aos caracóis dos cabelos do Caetano, da Betânia, da Gal e do Sidney Magal...

Minha primeira participação já valeu um ótimo texto na Letra Elektrônica que acabou até sendo publicado no prestigioso Caderno Pensar de A Gazeta. Em meio a tantos escritos rebuscados e competentes, essa nossa participação estrambótica deve ter dado mesmo o que Pensar aos leitores de tão renomado jornal.

Estou apenas convidando, ninguém é obrigado a ir, mas você não vai cometer o tremendo baixo astral de faltar, vai? Pessoas que não usam mais sacolas plásticas vão; pessoas que não dirigem doidarássas devem ir; e aqueles que não fazem sexo com pessoas adormecidas, então..? Vão ocupar a primeira fila do Theatro!

Falando em Tropicália, vou ali dar uma corridinha no calçadão pra ver se paro de lembrar do Chacrinha toda vez que me olho no espelho. Bora lá de noite galera. Qualé? Vai ficar em casa assistindo Big Brother pra poder falar mal no Efebê? No Way Hôsêy!


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM JESUS O CRISTO

Uma vez o Sunda - sem sacanagem, esse era o apelido dele mesmo - perguntou por que é que eu gostava tanto de ir pra São Paulo se eu não curtia frequentar boates e bares chiques, para ele a única coisa interessante que poderia haver por lá. O que sempre me encantou na terra da garoa foi a cultura, o povo de um nível bem melhor do que o da roça em que nos ilhávamos. Gente que você pergunta sobre um livro e vai te saber dizer quem é o autor, se bobear tem até uma dica boa qualquer.

A verdade é que eu não odeio essas “casas noturnas”, digamos assim; mas, obviamente, faça o favor de nunca me chamar para uma. Eu até freqüentava discotecas, boates e danceterias quando era um rapazinho tirado a pegador, daqueles que gostam de usar perfumes com nome esquisito (Eternity e Fahrenheiht, por exemplo) e camisetas apertadas para estufar os músculos, o máximo que uma camiseta me estufa hoje é a pança. Claro que não ia lá pra ficar ouvindo Danna Summers, era apenas um esforço em prol da vida sexual, afinal era nesses buracos que as fêmeas mais apetecíveis abriam suas asas e soltavam suas feras.

Minha estratégia nessas ocasiões era muito simples: enchia a lata em algum boteco honesto, como dizem hoje em dia, - nas boates corre tarifa de aeroporto e inviabiliza financeiramente um porre mais encorpado – entrava trocando as pernas, perturbava o disc jockey (Eita!) pra colocar rock e partia pra cima da primeira garota que me olhasse por mais de dois compassos no estilo allegro furiozo. Nas vezes em que não deu pra calibrar e entrei de careta em qualquer uma dessas paradas, acabei saindo sozinho. Dizem que o álcool desabilita o órgão repressor e aí as coisas acontecem ao inverso.

Sunda não sabe, nem sequer pressente, mas o que me atrai especialmente em São Paulo são os sebos, livrarias que vendem livros usados. Geralmente volto carregado. Em minha última viagem trouxe uns quatro novos títulos, curiosamente havia alguma relação de mesgueio entre três deles: achei uma edição do primeiro volume da série “Operação Cavalo de Tróia” do autor espanhol J. J. Benitez. Era um livro que tinha vontade de reler, porque lembro pouca coisa. Os restantes foram um curioso e espetacular livro intitulado “O Babuíno de Madame Blavatsky”, devorado em sumárias duas semanas, e O Anticristo de Nietzche que venho degustando lentamente. 

Cada um à sua maneira os três livros tratam do impulso religioso humano, sendo que no primeiro o Benitez teve a sacada de recontar a paixão de Cristo através de uma minuciosa pesquisa sobre hábitos da época, informações da cultura judaica, textos de historiadores como Flávio Josefo e por aí vai. Neste aspecto o livro é muito interessante, o resto é tanta bobagem e desejo de ser um novo Julio Verne que dá até vergonha pelo autor. O momento mais espetaculoso – e portanto patético - é quando o jornalista consegue realizar o sonho de qualquer profissional da imprensa ocidental: uma entrevista exclusiva com Jesus O Cristo. 


Imagino que a maioria dos leitores da Lektra ainda não teve a oportunidade de ler essa obra, então transcrevo aqui a entrevista, pena que o vídeo não caiu ainda no youtube:
***
 
Ao notar que Jesus se oferecia prazeirosamente ao diálogo, aproveitei a ocasião e perguntei-lhe sua opinião sobre o que sucedera naquela tarde.
   
- Encontrei-os todos embriagados. Nenhum eu encontrei sedento. Minha alma sofre pelos filhos dos homens porque estão cegos de coração; não vêem que chegaram vazios ao mundo e tencionam sair vazios do mundo. Agora estão bêbados. Quando vomitarem seu vinho se arrependerão...

- O mundo do qual venho - tratei de pressioná-lo – distingue-se precisamente pela confusão e pela injustiça. A Bebida tem sido um problema também...

- Teu mundo não é nem melhor nem pior do que este. A ambos só lhes falta o princípio que rege o Universo: o Amor...

Aquela incisiva frase do Nazareno trouxe-me à memória muitas das crenças sobre um Deus justiceiro que condena ao fogo do inferno o que morre em pecado. E foi o que lhe disse. Cristo sorriu meneando a cabeça negativamente.

- Os homens são hábeis manipuladores da Verdade. Um pai pode sentir-se aflito com as loucuras do filho, mas nunca condenaria os seus a um mal permanente. O inferno, como crêem em teu mundo, significaria que uma parte da Criação haveria escapado das mãos do Pai... E posso assegurar que crer nisso é não conhecer o Pai.

- Porque então falaste em certa ocasião de fogo eterno e ranger de dentes?

- Se falando por parábolas não me compreendes, como então posso ensinar-te os mistérios do Reino? Aquele que aposte forte, e se equivoque, sentirá como lhe rangem os dentes.

- A vida é uma aposta?

- Uma aposta pelo Amor. É o único bem em jogo desde que se nasce.

- A ser assim, que podemos pensar dos que nunca amaram?

- Não há tais.

- Que me dizes dos sanguinários, dos tiranos?

- Também esses amam à sua maneira. Quando passarem para o outro lado levarão um bom susto...

- Não entendo.

- Eles se darão conta, ao deixar esse mundo, de que ninguém lhes perguntará por seus crimes, riquezas, poder ou beleza. Eles mesmos se convencerão de que a única medida válida no “outro lado” é a do Amor. Se não amaste aqui, em teu tempo, somente tu te sentirás responsável.

- E que ocorrerá com os que não tiverem sabido amar?

- Quererás dizer: com os que não tiverem querido amar...     - Novamente me senti confuso. -... Esses serão os grandes burlados e os últimos no Reino do meu Pai.

- Então teu Deus é um Deus de amor... - Jesus pareceu agastar-se.

- Tu és Deus!

- Eu, Senhor?!

- Todos os nascidos levam o selo da Divindade.

- Mas não respondeste à minha pergunta. É Deus um Deus de amor?

- Não o fosse e não seria Deus.

- Começo a intuir, Mestre, que tua missão é muito simples. Será que me engano se te digo que teu trabalho consiste em deixar uma mensagem? - O Nazareno sorriu satisfeito. Pôs sua mão sobre meu ombro e replicou:

- Não podias resumi-lo melhor. Diz a teu mundo que o Filho do Homem só veio para transmitir a vontade do Pai: que todos são seus filhos!

- Isso já sabemos...

Tem certeza? O que significa para ti ser filho de Deus? - Sinceramente, não tinha uma resposta válida. Nem mesmo estava seguro da existência desse Deus. - Eu to direi. Haver sido criado pelo Pai supõe a máxima manifestação de amor. Ele dá tudo sem pedir nada em troca. Eu recebi o encargo de recordar isso. Essa é a minha mensagem.

- Então, façamos o que façamos, estaremos condenados a ser felizes?

- É questão de tempo. É necessário que o mundo entenda e ponha em prática que o único meio para ele é o Amor.

- Se tua presença no mundo obedece a uma razão tão elementar, não crês que “tua igreja” é demais?

- Minha igreja? Não tive nem tenho a menor intenção de fundar uma igreja tal como tu pareces entendê-la.

- Não foi você quem falou que a palavra do Pai deveria ser estendida até os confins da Terra?

- E ela será, mas isso não implica em condicionar ou dobrar a minha mensagem à vontade de poder ou das leis humanas. Minha mensagem só necessita de corações puros que a transmitam; não de palácios ou deputados que a cubram.

- Tu sabes que não será assim. Tem o Papa, tem os evangélicos, tem o Silas Malacacheta (ouro de tolo?). Sei lá...

- Ai dos que antepuserem sua estabilidade à minha vontade! Tu necessitas de igreja para chegar ao teu coração? O amor não necessita de templos ou legiões urbanas.

- Por que é tão importante o Amor?

- É a vela do navio. O Amor é dar. Desde um olhar até a sua vida.

- E o que dizes de teus inimigos? Também deve amá-los?

- Sobretudo a esses... O que ama aos que o amam já recebeu a recompensa.


J.J. Benitez - Operação Cavalo de Tróia - Livro 1 "Jerusalém".

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

NÃO FALO MAL DO BBB / FALO MAL É DE VOCÊ!

Todo ano é a mesma coisa: mal a Rede Globo começa a anunciar o Big Brother, traçando o perfil de seus “heróicos” participantes, pipocam zilhões de críticas revoltadas em tudo quanto é “site de relacionamento” da Internet. Peço licença para discordar dessa peculiar tortura antecipada que aflige o povo brazuca: para início de conversa, o próprio fato de alguém se incomodar tanto já mostra o quanto está debaixo do pé gordinho do filho do Boni e do pobre Bial (pobre?). E outra, agora traçando um paralelo: faz uns meses assisti a uma longa entrevista do poeta Ferreira Goulart que se dizia incapaz de criticar a poesia de pessoas que vinham humildemente submeter seus esforços literários à opinião do consagrado mestre. Disse que preferia calar:

- Eu vou falar o quê? O sujeito não roubou, não matou ninguém. Fez lá sua poesia na maior boa vontade, como é que eu vou dizer que ele é um medíocre sem talento? –

Penso algo assim de toda essa porcaria transmitida às toneladas pelas redes abertas e fechadas de televisão. Ninguém é obrigado a assistir novela: ou será que é? Pegue um bom livro para se entreter, vá ao cinema, aprenda a tocar um instrumento... Ora! Tanta coisa boa ainda por fazer. Por isso não falo mal dos balofos apresentadores da televisão, eles e suas contas bancárias polpudas tão diferentes da minha e da maioria das pessoas. Eles não mataram ninguém de tédio ainda, não que eu saiba...

Na mesma balada, é bastante curiosa a pequena demanda por protestos causada pelos problemas reais da vida, essa ordinária, como as pessoas que morrem sem atendimento nos hospitais e inúmeros outros crimes hediondos cometidos contra o povo todos os dias, os sutis aumentos nos preços dos produtos e serviços que mantém a maioria das pessoas endividadas ou no limite de seus recursos financeiros. Vide o recente aumento dos pedágios ou a invenção esperta das sacolas ecológicas.

Curiosamente, as grandes sacanagens impostas diariamente ao povo brasileiro são encaradas (de frente) como coisa inevitável, nem sequer são questionadas. Enquanto isso, programas idiotas de televisão - que não são obrigatórios nem da conta de ninguém os exibir - são vistos como coisa altamente ultrajante. Nesse mesmo instante bombam protestos na Internet contra o BBB, curtidos e apoiados por inúmeras pessoas Uau! Isso realmente mostra como somos capazes de nos indignar, pena que é geralmente pela razão errada...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

CRÔNICA ABSURDA - MANIFESTO CULTURAL AUTÓCTONE Nº 01C

Sim, é uma questão de dinâmica, de estrutura de palco, de enfiar a cara ou outra coisa qualquer que o valha! Eu não inauguro um novo ano, ele é que se inaugura sozinho, é parte de um todo e sua imaginação. Por isso que digo, porque acredito, que em muitos casos complicados aquilo que é visto como o problema pode muito bem ser o caminho para a solução e não o contrário. Sei lá eu de contrários e de advérbios, eu sei lá da vida dos outros. Não gosto quando vêm me falar da vida dos outros, não quero ser público paciente para frustrações e loucuras. 

Todo ano é a mesma coisa, nós mudamos, nossas roupas mudam. Não poderíamos usar as mesmas coisas de vinte anos atrás nem que quiséssemos. A moda muda e as roupas nunca mais serão as mesmas e se fossem nossa pele é que seria diferente, eu sei lá o que isso também quer dizer...

Essa noite sonhei um sonho estranho, uma enorme roda de metal flutuando muito alto no céu. Parecia uma daquelas engrenagens de relógio, só que dela saíam pontes para lugar nenhum. Eu estava de pé em uma praia onírica que - como é comum - não saberia dizer se era de um grande rio ou um delta no mar, mas haviam montanhas ao redor e distante também. Era uma obra em construção, flutuante, inacabada, que não posso - e nem quero poder - imaginar como é que se constrói.

No sonho eu não imaginei o preço do pedágio, não há lógica nos sonhos, não precisamos meter a mão nos bolsos e constatar que a vida fica mais cara, porque é necessário que a maioria viva sob opressão. É assim que se joga esse jogo. Depois de velho, ao invés de ficar bom em o jogar, comecei a perceber mais claramente que existem formas de, simplesmente, não participar mais e escapar daquela grande roda. Mesmo porque, uma hora todo mundo vai ser carta fora do baralho. É preciso se preparar para o que nem sei, principalmente isso (Saravá George "Erra O Som").

Não, não vou procurar significados, nem significantes. Ficar é coisa de adolescente de anos atrás, bem atrás, exclusive. Não precisamos de sentido, mas talvez de sensações. Não quero mais conhecer a teoria, quero experimentar. Não quero saber quantos raios tem o aro de uma bicicleta: eu quero o que não sei se quero mais, o que eu quero é, talvez, pior de tudo, não fazer mais sentido. Bye!