Páginas

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O BARCO DO ROCK NÃO É TITANIC MAS AFUNDA!


“Fomos criados vendo televisão para acreditarmos que um dia seríamos milionários, deuses do cinema e estrelas do rock, mas nós não somos. Devagar vamos aprendendo isso.”


Trecho do filme Clube da Luta


Nos meus dois últimos textos falei de sexo, depois das drogas e agora – pra arrematar – resolvi falar de Rock And Roll. Um tempo atrás eu criticava a forma que a indústria cinematográfica tenta atrair o público feminino usando sempre as mesmas três palavras mágicas: amor, coração e paixão, gênero cinematográfico que um jornalista local classificou carinhosamente de “filme de menininha”. A minha mesmo se derrete toda quando vê um desses “tags” - apesar de minha expressão de tédio – e enquanto eu sacaneava essa onda dela tomei na cabeça uma resposta bem inesperada: “Não vem não, que quando o filme tem Rock no título você também fica doido pra ver”.

Pior que é verdade, nunca tinha parado pra pensar nisso... A gente se faz de esperto, se reveste de um elaborado verniz intelectualóide, mas a indústria cultural existe há muito mais tempo, de maneira que nem nos damos conta de que foram esses mesmo “empresários inescrupulosos” que formaram nossos hábitos – tudo bem que à custa do trabalho de muitos bons artistas – mas de repente me descobri um rebelde de boutique. Ter um gosto, o meu gosto, me faz ser apenas “diferenciado” e para a indústria cultural isso não tem o menor problema: sou só mais um consumidor para o qual ela já estava pronta a atender.


Todo esse longo colóquio introdutório está rolando porque vi ontem o novo filme “O Barco do Rock” - uma produção do mesmo pessoal que fez os deliciosos “Quatro Casamentos e um Funeral” e “Um Lugar Chamado Notting Hill”. Como era de se esperar a película é caprichada e conta com a presença de vários atores de peso, inclusive Philip Seymour, Keneth Branagh e Rhys Ifans que desde sua aparição como “Spike” - o atrapalhado e maluco inquilino do filme Notting Hill – vem nos devendo atuações mais marcantes e convincentes.


Não tem catzo nenhum a ver, mas esse negócio de barco do rock me lembrou daquele Catamaran que ficava no meio do mar da Curva da Jurema, lembram? Fui em uns dois bons roquenrous ali, um dos poucos lugares realmente diferentes para se ir em Vitória. Que fim terá levado?



O Barco do Rock é uma rádio pirata que funciona em um navio atracado no Mar do Norte e, para desespero das autoridades, tinha grande popularidade na sisuda Inglaterra dos anos 60. A Grã-Bretanha vivia o auge de bandas fundamentais para a história do gênero como os Beatles e os Rolling Stones, estes, por sinal, mencionados verbal e musicalmente diversas vezes, diferente do quarteto de Liverpool que, apesar do imenso sucesso, pareceria óbvio demais para a trilha sonora de um filme sobre a rebeldia e a contestação do Status Quo. Amigos: são muitas referências ao longo do filme e, desnecessário dizer, a trilha sonora é deliciosa. O ponto fraco vem do roteiro que parece indeciso na condução do drama e o resultado final é frouxo e indefinido.


Talvez o problema desse filme é que somente a história da rádio pirata não seria suficiente para sustentar a trama de um longa-metragem, então vêm os tradicionais dramas paralelos: falta de mulher do homem embarcado, adolescente que não sabe quem é o próprio pai e prestes a perder a virgindade, o cara do governo que é malvadão e caricato. Enfim, temas recorrentes no cinema e que no final soam desgastados e ingênuos para o público de roqueiros maduros ao qual se destina. Antes que eu esqueça, essa coisa do menino no meio da bagunça dos marmanjos roqueiros me lembrou de cara o ótimo “Quase Famosos”, que surfa em ondas bastante semelhantes à dessa produção, só que com mais sucesso.


Faltou ao Barco do Rock pelo menos uma personagem central carismática que justificasse o tanto de gente boa trabalhando no filme, a sensação ao final é de desperdício de talento. Todos papéis são equilibrados demais e por isso ninguém se destaca pro bom ou pro ruim, no final fica aquela sensação de leite morno. As revelações e os desfechos vão sendo cozinhados, mas acontecem sem surpresas, viram anti-clímax. As músicas – classificar de ótimas seria pouco, como já disse – não refletem muito bem a trama ou o drama de um personagem, como acontece tão naturalmente em Notting Hill, isso só para dar um exemplo. Enfim, o filme é tudo o que poderia ser e não é...


É um filme de Rock antes de tudo, uma homenagem a esse gênero musical que revolucionou o mundo certinho dos ingleses, porém soa oportunista como o lançamento de uma boa coletânea de músicas dos anos sessenta e muito pouco mais do que isso. Compare com o fundamental “A Festa Nunca Termina” que narra a história da cena de Manchester e você vai entender melhor a diferença. Minha garota acertou, sou um fanático por rock mesmo e caio que nem um patinho toda vez que vejo a lingüinha do Rolling Stones ou a placa da Route 66, o problema é descobrir que eu também fui criado pela televisão acreditando que seria um astro do roquenrou e que por mais que critique a indústria cultural de uma forma ou de outra estarei sempre inserido em seu contexto, pensando dentro de uma bolha, e isso também vale para você que se deu ao trabalho de me ler até aqui.


No filme O Clube da Luta tem também uma outra frase muito boa que nos leva a várias reflexões: “as coisas que você possui acabam te possuindo.” Pegando esse gancho eu pergunto: até onde somos o que pensamos ser porque fomos criados para ser assim? Ou melhor: se percebemos que não somos exatamente aquilo que a sociedade que nos criou nos fez acreditar ser, então o que somos e o que verdadeiramente precisamos para sermos felizes? Essas são perguntas muito boas não é? Começo então a entender o porque de tanta gente gostar de apanhar ou precisar se drogar para viver a vida... É que no final tudo se resume a drogas, sexo e rock and roll.


terça-feira, 27 de outubro de 2009

POR QUÊ PRECISAMOS TANTO DAS DROGAS?


Vejo as notícias escabrosas sobre o uso das drogas, desde que me entendo por gente isso é assim. Um rapaz matou uma amiga, ele era um “nóia”, é como chamam agora os viciados em crack, o pai dele deu uma entrevista dizendo que o problema é o álcool, porque é permitido e serve como porta de entrada para os outros vícios. Um prefeito foi preso no interior de Minas comprando drogas, não bastasse isso, pra alegria da imprensa e dos blogueiros de babados, o homem estava na companhia não de um, nem dois, nem três, mas quatro travestis! Isso é o que eu chamo de sede de poder!

O problema das drogas só vai poder ser compreendido quando começarmos a fazer a pergunta certa com relação ao assunto: por que é que o ser humano precisa tanto das drogas? E também, por que é tão hipócrita com relação ao alheio? Já reparou que no trabalho todos têm a tendência a se sentir sobrecarregados e a pensar que os outros não fazem nada, que só ele está carregando a empresa nas costas? Ninguém se coloca no lugar do outro, querem aceitação e a compreensão de todos, mas dificilmente pagam na mesma moeda.

Conheço muita gente dita “careta” – inclusive muito preconceituosa com o resto - que vive à base de calmantes e antidepressivos. O quê é isso senão Droga?! Dizem que Elvis Presley era assim e que morreu por conta dos excessos autorizados por um médico inescrupuloso, como parece ter sido o fim de Michael Jackson. O Rei do Rock nunca se considerou um drogado - segundo os mais íntimos ele abominava álcool, maconha e outros tipos de drogas – se considerava um doente e era mesmo, doente desse mal que aflige uma imensa maioria das pessoas: a dor de estar vivo.

Enquanto não descobrirmos o que é essa paranóia compulsiva e auto-destrutiva não vai haver paz, enquanto essa pergunta não for respondida: por que somos assim? O que atrapalha e sempre desviou o foco foi a tendência hipócrita a se simplificar o assunto: “Fulano é assim por falta de Deus no coração!” E, realmente, as religiões acabam sendo importantes para ajudar as pessoas a saírem do vício, mas não responde a pergunta realmente de maneira que sua proposta funciona para uns e para outros não, sem falar que nessa muitos recaem ou trocam seus vícios por coisa até pior e ainda mais destrutiva.

Outro costume muito difundido é culpar a criação, mas quem tem filhos – e eu não os tenho - sabe que mesmo os criando da mesma maneira, eles serão do jeito que escolherem ser, terão defeitos e qualidades diferentes, viverão apesar da criação que tiveram e não por causa dela. Tanto é que vemos pessoas de todas as classes sociais, raças e religiões envolvidos com problemas emocionais e, eventualmente, precisando usar droga e eu acho que é aí que está o ponto crucial, exatamente o que vem sendo negligenciado ao longo dos anos: o usuário de droga precisa se drogar! Parece óbvio, mas não o é tanto assim...

Não conheço ninguém que goste de tomar remédio, mas olha como tem! O tal do Rivotril é mais fácil de encontrar na bolsa das madames do que baton ou chocolate, um amigo chama essas drogas de pílulas da alegria, sem elas fica difícil viver. Ora essa: por quê? Vaidade, competição, ansiedade, mundo veloz, globalização... medo! Vivemos nos anestesiando para o dia seguinte, porque o momento presente nos esmaga com o peso do mundo e da responsabilidade. Pior ainda, não nos ajudamos, vivemos incentivados a habitar em nossa célula, cuidando de nossa vida, pagando nossas contas e rezando para estar tudo certo. Ninguém agüenta viver assim por muito tempo sem precisar de um negocinho...

Abre o olho raça humana. Pegue esse monte de cursos e palestras motivacionais que te enchem de mais ansiedade ainda e chuta que é macumba! Ninguém precisa vencer, vender, nem ser melhor de nada não! Estar vivo é um caso a ser explicado, não se preocupe em “aproveitar o dia”, deixe a vida acontecer. Sabe aquele sonho de viajar para o exterior? Mande pro espaço! Sabe aquele carro, aquela casa, aquele som, aquela roupa? Mande pro diabo que te carregue! E, finalmente: sabe aquele grande amor que te faz, fez e fará sofrer? Procure bem lá dentro de você...

Nós nascemos em bom estado, não saber usar o brinquedo é que estraga a brincadeira.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

AMORES ESTRANHOS EM TRÊS MOVIMENTOS


1 Allegro Mordaz:


Ela queria que eu mordesse a sua cabeça porque dizia que aquilo a excitava...


Na primeira vez que íamos transar, ela saiu do quarto exibindo um sorriso confiante, logo pude ouvir o som do chuveiro e uma tênue diminuição da luminosidade quando a resistência da ducha entrou em ação. Aproveitei para colocar pra tocar o disco com a trilha sonora de nosso romance, uma canção melosa da banda Eurithmics.


Ela voltou enrolada em uma toalha, deitou de costas na cama e me olhando inexpressivamente desembrulhou o corpo, revelando-se completamente nua, era como se dissesse: olha aqui o presentão que eu trouxe pra você: pode deitar e rolar. Estávamos embalados em uma paixão furiosa, autofágica, meteórica. O ato sexual – especialmente o que faríamos naquele instante – significou a “sagração de nossa primavera”. O gelo derretendo, o fim do longo e tenebroso inverno, a retomada da vida sentimental.


Gostava de ficar de quatro, jogava a cabeleira loira para trás empinando os quadris num gesto estudado e, talvez por isso mesmo, mecânico - como as garotas da televisão: provocante e vazia – depois pedia agoniada: morde a minha cabeça! Era uma ordem estranha e, sobretudo, difícil de cumprir!


Depois de tudo ela se embolou forte em meu corpo e chorou mansinho, um choro aliviado, feliz. Era como se aquela bela cerimônia sexual pusesse fim a uma longa maldição, praga de feiticeiras, macumba, e que lhe era permitido gozar outra vez a plenitude infinita de um simples amor.


O problema é que ela não gostava de sexo, apenas autorizava a sua realização porque vinha embutido num pacote de benefícios que na época a interessava: marido, lar, família, status social etc. O esperma a enojava, tomava longos banhos após o ato sexual, queria arrancar uma misteriosa culpa de dentro da própria cabeça a dentadas, drama que nada tinha a ver comigo: era ela e seu passado sombrio e um incerto sopro de insanidade que ameaçava tomar conta...


2 Adágio Verborrágico:


O negócio da “Santinha”, uma namoradinha evangélica que tive, era destrambelhar a falar durante a transa. Muito antes de nosso singelo barco do amor cruzar valentemente o oceano ela já disparava o discurso contraditório: “não, não, você não pode, não pode!” A respiração aprofundava, as frases se tornavam mais entrecortadas e rápidas, as palavras ganhavam aspectos dramáticos e excitados: “Você quer, você quer não quer? Quer colocar um filho nessa barriga?” E alisava o ventre com as duas mãos enquanto resfolegava e apitava que nem um trem de doido. Eu estava apoiado nos dois braços, remando firme a baiúca; ela, esparramada e rebelde, sentia o gozo queimando sua alma no inferno, daí gingava pra cá, gingava pra lá, fugindo das deliciosas estocadas do pecado. Pra mim ela estava apenas dando o seu jeito criativo de prolongar a brincadeira: “Não! Não! Eu não posso, isso não está certo. Isso é prostituição!”


Porra! - Pensei. - Eu não estou pagando nada!


Só depois de muito custo, rebolado e negociação é que a “Santinha” se entregava inteiramente ao prazer, mas nem por isso deixava de irradiar a peleja: “Tá entrando tudo, tá entrando tudo, ai, ai! Sim, sim, você pode, você pode! Vai logo seu cachorro. Acaba com isso de uma vez!” Na hora do gozo ela ainda gritava: “Aperta! Aperta!” Sem nunca me dar sequer uma pista do que diabos eu deveria apertar...


3 Presto Ma Non Troppo:


Ela montou em minha pélvis apressada como se tivesse medo que eu pudesse escapar ou algo assim. Ajeitou o corpo com destreza e rapidamente cavalgava a rédea solta, balançando a cabeleira castanha. Então se jogou sobre meu tórax, chegou bem perto de meu rosto e pediu num sussurro: “Me dá uns tapas vai...” Respondi que apesar de meu jeitão confiante de homem maduro e experiente nunca tinha batido em uma mulher e perguntei: “Como é que você quer que eu faça isso?” Erguendo-se novamente sobre a sela colocou carinhosamente as duas mãos em meu rosto e afastando a direita vibrou a bofetada. “Ah... Entendi.” Sorrindo a amazona voltou a trotar, na espera ofegante do que se seguiu. Plaft! Seu rosto foi projetado para o lado, através da cabeleira pude ver um sorriso de prazer, daí mandei outra, outra e mais outra. Assim foi noite à dentro...


No elevador ela sorria satisfeita e feliz. Verificando a maquiagem notou que as maçãs do rosto apresentavam uma coloração muito mais rosada do que o normal. - “Olha só o que você fez comigo.” - Respondi divertido que a vermelhidão lhe emprestava um aspecto mais saudável, afinal estávamos em pleno inverno nada rigoroso dos capixabas. - “Quero só ver o que vou dizer quando chegar em casa.” - Imagine só, depois de tudo, se preocupar com um detalhe besta desses, mas a tranquilizei com o melhor da sabedoria popular: - “O pior que pode te acontecer agora, querida, é levar uns tapas e isso... Você aguenta...”


terça-feira, 20 de outubro de 2009

VOVÓ VOLÚPIA VOLTA A ATACAR!


Nos gloriosos e misteriosos anos oitenta apareceu em Vitória a figura da Vovó Volúpia, uma coluna sobre cultura pop, talvez a primeira daqui a ser publicada em um jornal de circulação diária. A autora era Fernanda Magalhães, que – como sugere o nome de seu espaço - exibia um estilo todo próprio e bem humorado para veicular suas notícias, a Vovó Volúpia era uma delícia. Com a morte trágica de nossa mãe - o Magalhães vem de nossa ligação cartorial - a escritora não só abandonou as letras, mas também a fortificada ilhota dos irmãos “roça de milho” e foi apaulistanizar a vida. Ganhei eu um posto de observação avançado dentro da maior megalópole cultural latina, porém a nação botocuda saiu perdendo e ainda faz de conta que não sente a sua falta.


Fico besta com o descaso que tratamos nossos potenciais escritores e poetas, a grande maioria aqui hoje dá a notícia, mas não filosofa os fatos, fosse assim teria necessariamente que criticar o Status Quo – não confunda com a banda britânica de hard rock anos 60 – e comprar uma briga contra gente poderosa que não aceita, e muito menos, perdoa críticas. Uma aluna me contou, por exemplo, do falecimento do poeta Miguel Marvilla, agora no último dia 10 de outubro... Não me lembro de ter visto nada na imprensa local – falo especialmente da Internet, porque não leio mais os jornais de papel – lembro do livro “Os Mortos Estão No Living” que Miguel publicou em 1988 com sucesso – hoje em sua terceira edição - e que foi adotado nos vestibulares em 2007 e 2009. Em seu blog que tem o mesmo nome de seu livro mais famoso, o autor se apresenta assim:


“Poeta usado, safra 1959, ainda em razoável estado de conservação. Proprietário de quase nada, a não ser uma penca de cedês, devedês e livros, todos lidos, vistos, ouvidos, não necessariamente nessa ordem, e de uma alma ampla e arejada, com vista apenas para coisas boas. Mestre em História Antiga pela Ufes, por puro prazer. Autor de um bocado de livros de poesia: “Dédalo”, “Sonetos da despaixão”, “Tanto amar”, “Lição de labirinto”, por exemplo. Não se culpe por não conhecê-los: foram publicados quando vc ainda era criança — se bem que Shakespeare foi publicado bem antes e vc conhece... “Os mortos estão no living”, é meu único, até agora, livro de contos e foi adotado pela Ufes para os vestibulares de 2007-2009, razão por que estamos aqui, você e eu. Em 2007, publiquei “O Império Romano e o Reino dos Céus” — a criação da imagem sagrada do imperador em “De laudibus Constantini”, de Eusébio de Cesaréia (século IV d.C.), em que discuto a formação da “basileia” em termos cristãos (parece grego? É grego — o inglês do século IV). Para 2008, “Beleléu e adjacências” (romance), "Estranhos companheiros" (poesia) e “Zoo-ilógico”, poesia para crianças (inclusive as que já cresceram).”


Recomendo conhecer o blog deste nosso poeta, antes que nos esqueçamos de sua presença, ora, se tantas vezes esquecemos de nós mesmos! http://mortosnoliving.blogspot.com/


Mas voltando a falar da Vovó Volúpia quero compartilhar com vocês uma historinha lisboeta que ela me mandou, estudiosa e admiradora que é das prosopopéias do colonizador lusitano, esse ser paracoisado que nos antecedeu e que até hoje nos permeia... Boa leitura. Volta Vovó Volúpia! Cria um blog pra você!


Gentemmm,


Acontece cada história em Portugal! O relato da reportagem tá meio confuso, mas a história toda é inacreditável! Mário Gomes, coitado, fez escola. Beijos! (aqui a Vovó faz referência a um fato escabroso dos anos oitenta quando o ator deu entrada em um pronto-socorro do Rio com uma cenoura entalada... Bem, lá onde vocês estão aí pensando com suas mentes poluídas. Conta a lenda que o incidente teria se originado na vingança de um marido traído que contratou uns capangas para colocar o cara nessa situação, a intenção era humilhar publicamente seu desafeto e deu certo pra chuchu, ou melhor, pra cenoura).

"

Covilhã: Pastor sodomizado por patrões relata 48 horas de sofrimento


“Abusaram de mim porque sabia demais”


"Nunca assediei a patroa. Fui despedido e eles abusaram de mim porque sabia demais sobre ela." É desta forma que Luís Pereira, o pastor de 56 anos sodomizado com uma cenoura pelos patrões, começa o relato das piores 48 horas da sua vida. Nu e ensanguentado, dormiu em palheiros e, sem se aperceber, fez quase 100 quilómetros a pé.


'Fui despedido pela Olga a 12 de Maio, terça-feira. Na quinta-feira o Tó [patrão] ligou-me a pedir para regressar. No sábado apanhei o comboio de Lisboa e, pelas 19h00, estava em Castelo Branco, onde o Tó me esperava. Como era noite, nem me apercebi que não estávamos a ir para Rebelhos [Sabugal]. A dada altura parou para urinar. Quando voltou abriu a porta do meu lado e deu-me dois socos', recorda o pastor. 'Atirou--me para o chão e sentou-se em cima de mim a bater-me. Depois gritou ‘Olga, traz as cordas e a mordaça.' Foi nesta altura que a patroa saiu da parte de trás da carrinha.


Atado e amordaçado, Luís Pereira conta que viu a sua roupa ser 'cortada à navalhada' e só pensou 'na Nossa Senhora de Fátima' quando ouviu o patrão a dizer para a mulher: 'Olga, traz a cenoura.'


Quase inconsciente, foi abandonado na serra, a cinco quilómetros da aldeia mais próxima, Foz do Cobrão. 'Andei até lá e bati às portas a pedir ajuda, mas ninguém me abriu. Acabei por encontrar um palheiro e estendi-me lá, mas não dormi com medo. Só de manhã é que um casal de agricultores se dispôs a ajudar-me com roupa e comida. Só não tinham como me levar a Castelo Branco. Por isso, fui a pé.' Caminhou pelo IC2 até chegar, 'quase noite', à cidade.


'Fui à PSP e disseram que o caso seria da GNR. Andei até ao posto e o praça disse que nada podia fazer por estar sozinho. Fui até Rebelhos, único sítio onde conhecia alguém. Grande parte fiz a pé e dormi outra vez num palheiro, tive a sorte de apanhar duas boleias.'


Chegou à terra onde trabalhara quatro anos pelas 20h30 de segunda-feira e foi ajudado pelos donos de um café, 'por acaso são familiares do Tó e da Olga. Aí, comi e dormi. Deram-me uns sapatos, que os outros já não serviam.' No dia seguinte, 19 de Maio, voltou a casa, no Seixal. Um juiz soltou o casal, detido na última semana pela PJ.

domingo, 18 de outubro de 2009

MISSÃO DADA É MISSÃO COMPRIDA!


Quinta passada apresentei um evento sacudido que teve como atração principal uma palestra “motivacional” com o Secretário de Segurança Pública de São Gonçalo, uma das cidades mais violentas do Rio de Janeiro. Bom, mas o palestrante não era qualquer um, era nada mais nada menos que o “Capitão Caveira” Paulo Storani, do famigerado BOPE (Batalhão de Operações Especiais) e um dos principais colaboradores da equipe que realizou o controvertido filme Tropa de Elite. Storani se envolveu na produção desde a concepção do roteiro, dando entrevistas, contando suas lembranças e as histórias mais marcantes do período em que atuou em situações críticas de violência no Rio.


Quando Zé Padilha estava com sua produção em fase de preparação, Storani foi convidado para colaborar, desta vez realizando a seleção e treinamento dos atores que iam participar das filmagens, seguindo sua linha dura adotou os mesmos padrões que estava habituado. Perguntado sobre qual atores ele achava que deveriam ser chamados respondeu: divulgue que haverá a seleção e vamos ver o que aparece. Para entrar no BOPE o aspirante não é convidado, é voluntário e selecionado entre os que se candidataram à vaga. Com o filme foi da mesma forma que a coisa se deu.


Mais de oitenta atores apareceram para se candidatar às filmagens, o jeito foi peneirar. Storani mandou divulgar aos interessados que haveria um programa de treinamento nos moldes do BOPE - duríssimo - e que as filmagens aconteceriam nas favelas ocupadas pelo tráfico, geralmente de madrugada e que não haveria moleza para senhor ninguém. Debandou a maioria, ficaram 24 aspirantes e destes somente 21 chegariam a participar realmente das filmagens. Ainda bem, porque o número anterior estava mais para a tropa do BOFE de Elite do que qualquer outra coisa!


Nesse meio tempo Wagner Moura - então estrelando a principal novela da Globo - pediu para ler o roteiro e retornou dizendo que queria o papel do Capitão Nascimento. Pelo que entendi na fala de Storani, a equipe ficou lisonjeada com o interesse do ator de maior exposição na televisão nacional, mesmo após saber das regras espartanas que a produção impunha. A presença de Wagner foi vista como certeza de sucesso junto ao povão, especialmente o feminino. O treinamento aconteceu em duas semanas numa propriedade no interior do Rio de Janeiro, região de montanha, inverno. Não houve regalias para ninguém, todos iam e voltavam juntos diariamente em um mesmo ônibus, faziam as refeições em grupo e no treinamento não houve moleza nem exceções à regra. Três atores acabaram abandonando o projeto ainda durante esse treinamento: dois “pediram pra sair” e um teve que ser desligado. Essa foi a história que eu achei mais interessante.


Storani disse que esse ator era um cara de excelente compleição física, porém, errava os exercícios com tanta convicção que induzia quem estava perto ao erro também. Ora, as ratas eram punidas com flexões, corridas e mergulhos numa piscina de água gelada. Logo estavam todos encharcados por causa do “Rambo” desligado e passaram a o evitar. Na volta do treinamento o galerão no ônibus zoou o colega, já colocando em prática a pressão e os ensinamentos aprendidos que despreza os frascos e os comprimidos e persegue implacavelmente um ideal que está para além do melhor impossível. Lá pelas tantas o cara ficou puto e mandou o motorista parar o ônibus em São Conrado desafiando os companheiros a descer e invadir junto com ele a Favela da Rocinha, ante a surpresa e a indecisão de todos saiu desembestado em meio aos carros, chatomóveis, e se embrenhou na favela de selva atrás da Chita ou talvez da banana do Tarzan.


No dia seguinte o maluco não apareceu para treinar, foi encontrado em Copacabana correndo atrás de uma viatura da Polícia Militar, obrigou os policiais a pararem o carro, assumiu posição de sentido e entoou a canção do BOPE. A produção do filme foi informada do problema, foram lá buscar o renegado. Ao chegar na área de treinamento o maluco colocou o uniforme e se jogou na água, perguntado porque estava molhado ele disse que já estava se punindo por antecipação. Resumindo: saiu de lá direto para alguma clínica psiquiátrica. Quando Storani contou essa história, não sei porque, lembrei daquele biruta que participou do programa A Fazenda, Theo sei-lá-das-quantas.


Como eu disse o Capitão Storani é um cara pilhado e exigente, parece um Bernardinho militarizado, nada está bom, tudo pode ser melhorado. E foi aí que eu percebi a confirmação de uma impressão que tive quando vi Tropa de Elite: Wagner Moura não era o cara para aquele papel. Todo ser humano tem suas limitações, o fato de um ator não se adequar a uma personagem/pessoa não é culpa dele é só que, às vezes, uma certa pegada é necessária e a forma de se evitar isso é na seleção. Mas como rejeitar um ator hiper famoso e que participou dos treinamentos, não se portando como o astro global que todos temiam?


O Capitão foi só elogios à pessoa do Wagner Moura: um baiano excelente, muito bem fisicamente, um sujeito humilde; ocorre que para dar vida ao Capitão Nascimento é preciso muito mais do que aprender a manejar um fuzil e fazer cara de mau. Wagner Moura se revelou um cara muito zen e, pra piorar, estava super feliz porque tinha acabado de ser pai, abraçando todo mundo com os olhos cheios d’água. Storani pensou: “arrumamos um problema” e passou o recado pra produção. Mas fazer o quê? Mandar o astro do filme ir embora? Resolveram arrancar a fórceps/psicológicos uma espécie de Capitão Nascimento de dentro daquele monge budista.


Trancaram o ator com o Capitão Storani em uma sala e este caiu matando no que ele chamou de pressão psicológica, precisava descobrir se algo irritava aquele baiano pasmaceiro. O Capitão Nascimento era uma personagem de pavio curto, uma pessoa que acorda sem saber se vai chegar vivo ao final do dia, Wagner era só felicidade. O resultado dessa sessão de terapia ficou famoso, o ator explodiu com um murro e quebrou o nariz de seu treinador que enfim se deu por satisfeito: Nasceu o Capitão Nascimento! O diretor do filme ficou preocupado, Storani tinha machucado a mão do astro: o que o sindicato dos atores ia dizer? Enquanto isso o Capitão respondia: pô bicho meu nariz tá quebrado...


Fazer um homem pacato explodir em um acesso de fúria é algo possível, mas transformá-lo em um militar, um soldado belicoso obcecado com o cumprimento de sua missão, é outro papo. O que vemos na maioria dos filmes de ação são caricaturas grosseiras de homens invencíveis, os Rambos e G.I. Joes. A performance do protagonista de Tropa de Elite não arruinou seu resultado, longe disso, mas minha intuição diz que, como eu, Storani teria convocado outro soldado para cumprir a missão dada. Boa mesmo foi a palestra do Capitão, porém a sua motivação não vai ao encontro do desejo de todos hoje: mais do que estarmos preparados para essa terrível guerra civil, queremos a paz. Isso sim é que é missão difícil de se realizar, basta ver o que acontece no Rio agora...


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

DE DIA FALTA ÁGUA, DE NOITE FALTA LUZ!


Bora dar umas rapidinhas culturais? Mas olha só que coisa: todo mundo em Vitória se queixa da falta de uma temporada que contemple a música de concerto de forma mais assertiva, que estamos alijados do circuito cultural do país e blá, blá, blá. Pois é, exclusive (sic) isso. Tome na cabeça então dois convites muito legais de apresentações que vão acontecer no mesmo dia e no mesmo horário e ainda com o seguinte detalhe: poucos quarteirões de distância separam uma da outra. Ai, ai, ai...


Primeiro: segue a tradicional série Concertos Internacionais em sua temporada de 2009 trazendo desta vez a Orquestra de Câmara da Hungria com um repertório que vai agradar especialmente ao público café com leite, tendo como destaque a “Simple Symphony” de Benjamin Britten e a dita “Pequena Serenata Noturna” de Mozart, que tem em seu primeiro movimento uma das dez melodias mais conhecidas do repertório clássico (nos dois sentidos: temporal e atemporal).



Depois: o Coro Sinfônico da FAMES traz um concerto só com obras do compositor inglês John Rutter (1945-) conhecido autor de hinos, corais e obras sacras, John Tavener foi seu pupilo. Curiosamente, apesar de se dedicar a música sacra, Rutter em uma entrevista ao programa 60 Minutes disse não se considerar um homem religioso, porém profundamente inspirado pela espiritualidade (WIKIPÉDIA).




O problema agora é escolher entre uma coisa e outra. Alegria de pobre dura pouco mesmo: quando não falta água, vem a enchente...


P. S.: Só pra arrematar. Nesse dia 21 (quarta-feira) tenho duas aulas para dar na UFES, nesse mesmo horário também, ou seja: não vou poder nem cogitar o assunto, ainda que a vontade de inventar uma visita técnica/cultural e levar a turma toda pra lá ande fazendo círculos em minha cabeça...


terça-feira, 13 de outubro de 2009

FORPLAY


Tava lembrando outro dia com um colega sobre os carrinhos de autorama. Ganhei um no natal, ou no aniversário – são datas muito próximas para mim – e frustrado, não conseguia fazer o brinquedo funcionar direito. Meu primo Paulinho Camburão que já tinha o dele é que me ensinou que era preciso esquentar o motor do carrinho antes de o colocar pra rodar. Ora meu pai intelectual de primeira não dava conta de me ajudar nesses pequenos detalhes.


Com o tempo descobri que muitas outras coisas precisavam desse aquecimento pra funcionar direito, muitas mesmo, até o tão marqueteado “sexo de qualidade” era então atrelado a um pacote de preliminares hiper valorizadas pelas garotas em plena década da liberação sexual. Práticas comuns como caminhar (especialmente depois de certa idade) ou mesmo fazer música – sobretudo profissionalmente – requerem também um certo warm up.


Hoje ando as voltas com o tempo e com a mente, curioso como alguns dos maiores volumes de literatura tratam o assunto. Lembro especialmente de “Em Busca do Tempo Perdido” de Proust, sete volumes de uma prosa muito peculiar e pessoal, não bastasse ser tão extensa é ainda densa como caminhar em uma mata fechada. Outro é a “Montanha Mágica” de Thomas Mann, mais de oitocentas páginas sobre o tempo, a velocidade relativa das coisas e outros bichos assim.


Quanto maior e mais intrincada a obra, mais do tempo desfrutamos em sua elucidação. Mas as pessoas sempre se queixam de não ter esse tempo, especialmente para ler. Lembro também que o edital de literatura da Secretaria de Estado não aceitava obras com mais de 250 páginas, regra que, aliás, estava para ser mudada. Será que era para poupar o tempo da banca? Ora, mas que bobagem, quantos clássicos da literatura ficariam de fora dessa?


Ando estudando bem mais do que o meu normal e tenho constatado que até o meu cérebro - que eu pensava já conhecer bem - precisa se aquecer pra começar a processar informações realmente. Quando submeto “a cabeça” a um grande esforço intelectual fico dias meio “fora do ar”, reagindo lentamente, esmiuçando coisas que não precisam de racionalização. Meu amigo Fabiano Mayer que é concertista de violão me disse que quando ele se prepara para uma apresentação depois fica assim também, meio pateta por uns dias.


Fez tanto calor hoje, parece que a “velha Gaiata” está se aquecendo para alguma coisa também, pensando nisso, no próximo sábado começa o infeliz do horário de verão e seguimos assim que nem cabeça de palito de fósforo: ora tá frio, ora tá pegando fogo. Não gosto de me submeter docilmente a esse fuso horário estatal, me dá uma preguiça pós-anos 2000, faço greve de existência.


Lá fora tem um monte de cigarras cantando, sei que é o calor que está se achegando da gente outra vez, todo ano tem isso, é que nem carnaval e vestibular...


... Ou o Natal e a data de meu aniversário... Esse ano não vai ter autorama, então sigo esquentando a cabeça, isso, entre outras coisas...


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

CORRESPONDÊNCIA POÉTICA E INTERAKTIVA


Juca, tenho andado tão acostumado com "o estado de coisas" que nem me dei conta de que ainda é possível interagir. Fiquei meio pê mesmo quando li, porque afinal você extrapolou né?! Então lá vão as minhas humildes considerações:


VOCÊ NÃO PODE ESQUECER O PAPEL SOCIAL QUE DESEMPENHA!!!!!!!!!!!! NÃO PODE ESCREVER TUDO QUE DÁ NA TELHA NÃÃÃÕOO!!!!!!!!!!!!!!! SEU AMIGO ALTER EGO É UM BÊBADO INCONSEQÜENTE AO VOLANTE!!!!!!!!!!!!! OLHA O SINAL DE TRÂNSITO!!!!!!!!!!!!!! CUIDAAAAAADO!!!!!!!!!! K-BLAM!!!!! CRASH!!! BUM!!!! PÔU!!!! BLÊI!!!! TÓIM!!! TUM!!!! KRAK!!!! FÚ-FLASSSSSS......


Alex Pandini

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­__________________________________________________


Ô Pandini, não é “alter ego” não (do latim: outro eu), você conhece o cara e esse cara não é “um amigo íntimo, no qual se pode confiar tanto quanto em si mesmo” (Dicionário Aurélio). Mas também não conto quem é, segredo de profissão, tá ligado? Tenho que preservas as minhas fontes... Uauhuhauha. Afinal ele pediu né? Mas tô achando interessante o rebuliço que a coisa deu. Me manda um poema seu preu publicar. Tô dando aula na UFES e sem tempo pra escrever.


Um abração.

Juca Magalhães

__________________________________________________


Ok! Lá vai!


"Quando fechou os olhos buscando, encontrou apenas uma grande nuvem, longas paragens de solidão, fugidias percepções de ter perdido algo importante; uma rosa no deserto esmagada dançou pura e cálida em sua frente bailando exuberante feito dedos ao piano. Uma rosa ou um nome de mulher, um esquecimento... nuvens de poeira grossa trazendo de volta seu antigo sempre. Quando fechou os olhos buscando, quis ver as coisas como Deus, quis absolver o juízo dos versos comidos pelos hirtos de fome; quis morrer, quis ser o vento e soprar para longe. Quando fechou os olhos no escuro túnel dentro dele, viu a vida brincar violências num canto de estrada finito. Quis ser o Supremo Grande Vivo, acolher a humanidade num gesto divino e altivo. Mas, humano, voltou pro seu canto; semimorto, e redivivo."


Alex Pandini:


Nasceu no município de Colatina, no Estado do Espírito Santo, filho de humildes descendentes de italianos. Foi com muita dificuldade que se formou em jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. Fez "bicos" em rádio, jornal, revista, teatro, música, publicidade, até que em 1995, tornou-se repórter de TV, área em que atua até hoje.


Fonte: Site Poetas Capixabas. Que “esqueceu” de dar destaque à gloriosa passagem de nosso Pandini pela banda Lordose pra Leão em sua melhor fase nos áureos anos noventa. Esqueceu de dizer também que ele é um dos nossos maiores poetas em todos os tempos, vide a qualidade do texto acima...


terça-feira, 6 de outubro de 2009

O VÃO, O VAZIO E A VAIDADE...

Vocês já futucaram onça com vara curta? E pularam que nem doido nos óio do dêmu? Eita! Eu bem que avisei que o texto anterior era politicamento incorreto e tudo mais, mas, curiosamente, até agora apenas a banda feminina da Letra ficou indignada. Digo que é curioso, porque a maioria dos homens acha muito macha essa sensação da irresponsabilidade e naturalmente fazem das suas aqui e acolá. Por isso o grande barato da mulher, especialmente as que respeitamos, elas nos fazem enxergar o quanto de meninos babacas temos ainda e o tanto de puxão de orelhas precisamos levar...


Fui reclamar que as participações estavam escassas, agora segura essa meu amigo anônimo:


Amigo Juca, tentei comentar no Blog, mas sei lá o que sucedeu.... O Internet Explorer acabou travando. Assim sendo, comento aqui mesmo...


Escrever não é talento de todos; não é à toa que você verifica essa escassez de "causos" alheios. Como eu falo do que está cheio o meu coração e meu pensamento, o mesmo vale para a minha escrita. Mas também me preocupo com a mensagem que é transmitida; não escrevo apenas por catarse, sou educadora e tenho responsabilidade sobre o que digo. E sinto que o mesmo vale para a sua escrita. É por isso que gosto tanto de ler o que você escreve. Ganho o dia, por assim dizer.


Felizmente esse seu amigo está no anonimato, me sinto envergonhada por ele que parece ter valores tão auto-centrados, se sentindo tão "esperto" por cometer tantas infrações, além de não se dar conta do risco que impõe aos outros, a começar pela filha - sem falar na sociedade e em si próprio. A exemplo disso, foi notícia do ESTV 2ª edição de ontem aquele motorista de caminhão inconsciente que provocou um daqueles acidentes, na Princesa Isabel, e que, por conta da "água" que ele alega ter bebido, dormiu a sono solto no carro da polícia. Pagou fiança de R$ 500,00 e foi liberado. E as pessoas que sofreram as consequências desse ato? Ficaram como? Indignadas, no mínimo!


A indignação ocorre quando sentimos que houve falta de respeito, comumente em situações de injustiça e humilhação.


Mas quando não damos valor ao outro, quando não fazemos questão do respeito mútuo, valorizando apenas os nossos atributos pessoais, as relações entre as pessoas vão ficando mais vazias. Vazio, vão, são palavras relacionadas etimologicamente com vaidade. O professor do Instituto de Psicologia da USP, Yves de La Taille, publicou recentemente o livro "Formação ética: do tédio ao respeito de si" (2009). Nesse livro, o autor faz uma denúncia séria da sociedade contemporânea, como sendo propulsora de uma cultura do tédio e da vaidade, uma sociedade não-cooperativa, onde se sobressaem "vencedores" e se desvalorizam os "perdedores". Em contrapartida, uma cultura do sentido e do respeito de si precisa ser construída, especialmente com as novas gerações, para reverter o mal-estar social que vivemos atualmente.


Vale a pena ler esse livro. Você vai gostar muito da metáfora que o prof. Yves apresenta já no primeiro capítulo: a metáfora do turista e do peregrino. E depois você me diz se "Fusca" é ou não é carro... E se quem tem um "Fusca" pode mesmo ser considerado um "perdedor".


Desculpe, querido, pelo desabafo. Mas, sinceramente, fiquei indignada.


Abraços,


Alline


CONTOS DA CAROCHINHA ALCOÓLICA

Como está dito no texto de apresentação da Letra Elektrônica, esse é um espaço aberto a participações de amigos e colegas a fim de contribuir para a nossa cultura. Curioso que, após mais de um ano do blog, poucos foram os que se dignaram a me enviar seus causos. É com alegria então que publico esse bem humorado, politicamente incorreto e filhote da década perdida “Conto da Carochinha Alcoólica”.


Por razões óbvias o autor – pessoa pública de nossa sociedade - pediu que fosse respeitada a sua identidade secreta, aproveito também para dizer que não concordamos com tudo o que está escrito no texto – especialmente no que se refere à novela da Globo – nem recomendamos o mau hábito de “beber e dirigir”, apesar de reconhecer que certos “prazeres” são muito difíceis de se abandonar... Segue o texto:


Eu nunca fui um cara, ou melhor, motorista, em dia com as minhas obrigações legais e tributárias, isto é, desde que me conheço como motorista (isto há uns breves quase 30 anos). Comprei meu primeiro carro, um fusca - se é que vocês chamam isso de carro - em 1980 e comecei a dirigir sem experiência nem carteira, às vezes bêbado, às vezes "sob a influência" e nem aí com o risco de ser preso, multado, ter o carro ou a carteira apreendida. Por várias vezes passei em blitzes fazendo um aviãozinho, com os documentos do carro desatualizados (licenciamento do carro atrasado, etc).


Sempre tive a sorte de não ser parado, ou quando era, jogava um papo qualquer para cima do guardinha (dos tipos: você sabe com quem está falando ou: você sabe de quem sou filho?) e nada rolava, eu era liberado e pronto. Hoje sou um cara renovado, acabei de quitar o licenciamento do meu carro (atrasado desde 2007) e doido para ser parado numa blitz ou em qualquer outra situação para tirar onda com os "homi".


Recentemente, saindo de um boteco bem popular de Vila Velha, depois de uns gorós para fechar o dia com chave de ouro, fui parado por um guardinha. Eu estava com a minha filha pequena no carro, depois que a peguei no colégio resolvi passar num barzinho que tivesse playground para "ambos" nos divertirmos. O guardinha pediu meus documentos e assim o fiz, todo orgulhoso em poder fazer uso do meu gasto tributário. Ele também me perguntou se eu havia consumido bebida alcoólica, já que onde ele estava era próximo ao lugar que eu havia acabado de sair. Pela cara de pau dele me perguntar isso, resolvi responder à altura:


- Não senhor. Quero dizer, levei minha filha para brincar e na ocasião tomei "uma" cervejinha para molhar a garganta e só. - Ele não acreditou muito ao ver minha cara de bobo alegre e resmungou:


- Isso é o que todos vocês falam...


Aí me enchi de razão e fui cortar a onda dele, que com aquela tranquilidade e pela minha experiência de abordagens passadas, estava ali só para descolar "um extra" pro fim de semana.


- Seu guarda, deixa me ver se entendi o senhor: eu por acaso faço parte desses "todos dizem a mesma coisa" ou o senhor só está pensando alto? - Ele meio sem graça e ao mesmo tempo querendo resgatar a moral em baixa, retrucou:


- Não, é porque... - Neste instante o interrompi dizendo:


- Sim, porque se o senhor diz isso de mim, é o mesmo se eu chamasse todos os guardinhas de "Abel. - Para os desocupados de plantão: "Abel" era o nome do guardinha chifrudo, esposo da santa "Norminha", que todas as noites antes de ir para as suas aventuras noturnas, dava um leitinho quente com sonífero para o mané dormir, na saudosa novela das 8 "Caminhos da Índia".


Se ele entendeu o meu recado ou não é problema dele, eu continuo indo e vindo...


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

DESCONSTRUINDO TOM ZÉ

Radiguet* dizia: “O público nos pergunta se a obra é séria. Eu lhe pergunto se ele é sério” Pois então! As obras geniais exigem um público genial. Jean Cocteau.


No Detran ouvi uma frase a la Nelson Rodrigues hoje de manhã: “todo José é um Zé”. Antes que vocês pensem, não lembrei do Zé da Pizza, lembrei foi do Tom Zé, artista cuja obra nunca conheci e com o qual eu não simpatizava muito por causa de uma impressão ruim que tive numa participação feita no Programa “Nossa Língua Portuguesa” do Pasquale Neto. Pendurado numas barras assimétricas o “cantor” contava uma história sobre Saint-Saëns ou Fauré não terem gostado da música de Stravinsky e toda a cena me pareceu coisa de gente pretensiosa que quer dar uma de quê. Um homem comum – que todos nós somos – se debatendo contra a realidade esmagadora de sua insignificância, mas pensei: bom, isso pode ser só uma impressão.


Tenho um livro que gosto muito, chama-se “Ópio – Diário de Uma Desintoxicação” do francês Jean Cocteau, do qual retirei a epígrafe deste texto e quero mencionar mais um trecho antes de prosseguir: “Detesto a originalidade. Eu a evito o mais possível. Para empregar uma idéia original é preciso tomar grandes precauções para não se ficar com jeito de quem botou roupa nova.” Pois foi essa a impressão que tive e que me desagradou na figura do Tom Zé, mas - sei lá porque - resolvi dar uma segunda chance pro cara. Peguei o filme “Fabricando Tom Zé” para assistir. Um verdadeiro tour de force pra tentar colar nesse baiano de Irará a alcunha de “gênio”.


Tem uma parada estranha aqui no Brasil: qualquer um por aqui que faz algo diferente (coloca roupa nova) é logo incensado por uma parcela da crítica e dos intelectuais de boutique como gênio. Nos últimos tempos foi assim com Chico Science, Zeca Baleiro e especialmente nesse resgate do Tom Zé que andava sumido e foi redescoberto pelo músico David Byrne da ótima banda de rock Talking Heads. Pois não é que o Tom Zé, em meio a sua verborragia pseudo-humilde, disparou a seguinte frase: “o Rock não é música Brasileira, é música americana traduzida pro português.” Ai, ai, ai... Se juntar Alceu Valença com esses três últimos “gênios” nacionais já citados, não vamos encontrar com o que fazer um Raul Seixas, aliás, parodiando Mozart** se é que vocês me dão essa licença.


Esse tipo de frase é pra mim coisa de gente mal resolvida, saca? Como o Marcelo Nova em um show do Camisa de Vênus aqui em Vitória, que ficou menosprezando os caras marombados falando que eles tinham o pinto pequeno. Como é que é isso? Falei no Alceu Valença porque ele atacou ferozmente o Rock Brasil com essa conversa de música de gringo, justamente quando as novas bandas viraram mainstream nos anos oitenta desbancando essa leva de nordestinos que haviam tomado conta do pedaço: Fagner, Zé Ramalho, o próprio Alceu e companhia. Até parece que só os ritmos nordestinos são música brasileira. É como dizer que Villa Lobos não fazia música nacional só porque compôs várias obras em estilo europeu. Quer dizer então que a poesia de Arnaldo Antunes, Cazuza e Renato Russo é gringa? Bem que os aculturados da “iú-és-séi” queriam...


O filme Fabricando Tom Zé, por retratar um músico, é curioso em vários sentidos. Não tem nem uma canção inteira, apenas trechos de velhos melismas do agreste e agogôs na lixadeira, numa tentativa tanto vã quanto insistente de tentar demonstrar a tal da criatividade. Destas a pior foi na hora em que o cantor mostra sua idéia “genial” de gravar a dita “Aria da Quarta Corda” - terceira suíte orquestral de Bach, segundo movimento - em ritmo de bossa nova e ficam insinuando que aquilo é uma inovação. Ora, primeiro que esta melodia batida que a gente ouve em tudo quanto é casamento já foi transformada em samba canção faz tempo (Amigo é Pra Essas Coisas – Aldir Blanc e Silvio da Silva) e segundo que até a Ave Maria de Bach/Gonoud já foi gravada em ritmo de pagode e nisso tudo, amigo, transborda apenas um tremendo mau gosto.


Tem outra hora que o cantor reclama que o povo francês não gosta que se fale a sua língua erradamente e tacha logo de frescura de gente rica, de europeu metido a besta. Bom, eu penso que quando a gente vai visitar a casa de uma pessoa, a própria educação nos convida a respeitar os costumes do anfitrião, tentar impor nossa vontade é, no mínimo, grosseria. Pois foi o que Tom Zé fez – por ingenuidade e não provocação, fosse assim até estaria desculpado - e tomou uma tremenda vaia. Ficou recitando a letra traduzida de sua música num francês dolorosamente rocambólico, lendo em um tosco pedaço de papel, a platéia ficou ofendida. Até lembrei dos manés da banda Scorpions no Rock In Rio de 1985 cantando Cidade Maravilhosa com sotaque espanhol, que coisa deprimente... Xiráriiii mahavirióssa xêa decantos miiirrr. Aquilo beirava a zoação de nosso terceiro mundismo e a platéia ainda aplaudiu, se tivessem alguma auto-estima teriam vaiado também.


Antes de acabar o filme ainda foi documentada uma tremenda baixaria com um técnico de som no prestigiado Festival de Montreux na Suíça. Tom Zé partiu pra cima do cara - que mal falava inglês quanto mais baianês - gritando: Ôoo é uma porra cara, é uma porra! Assim mesmo, macho pra caralho, vixe mãinha! Nessa hora ficou patente todo o drama desse artista inseguro, que por anos se sentiu menosprezado por todos, e o mal que faz a um cara amargar por tanto tempo o ostracismo, parece que o medo de ver ruir o castelo outra vez o atormenta e persegue como um fantasma. No frigir dos ovos e no espocar da sibilina, ficou a impressão de que, ao invés de genial, o Tom tem muito mais de Zé do que suspeita a nossa vã filosofia... E ainda fez um filme inteirinho para o provar.


* Raymond Radiguet (1903-1923) foi um precoce escritor francês, seu livro "O Diabo no Corpo" causou polêmica e alcançou sucesso. Morreu com apenas vinte anos vítima de febre tifóide.


** Diz-se que um músico foi procurar Mozart, feliz da vida, porque havia encontrado um erro em uma partitura de Haydn e, depois de muito encher o saco do compositor austríaco, acabou tomando essa: “escute aqui meu amigo, se juntar eu e você não vai se encontrar com o que fazer um Haydn.” Em tempo: Haydn tinha o prenome de José (Joseph) o que, não necessariamente, o faz ser um Zé também...